domingo, 26 de maio de 2013

16 anos no Lubango - retrospectiva


A PARÓQUIA DA IMACULADA CONCEIÇÃO,
DO LUBANGO,
À LUZ DOS SINAIS DOS TEMPOS

Pe. Álvaro Teixeira, cmf
( Pároco )

INTRODUÇÃO
Partindo da Missão de Nª. Sª das Dores, o Espiritano Pe. Domingos Alves Salgueiro, desde 1960 a 1964, deu início a uma actividade pastoral muito assídua e mais localizada, nos bairros da Maxiqueira e Sto. António, celebrando a missa dominical na Escola Primária Ten. Humberto de Ataíde.
Em Junho de 1964, o Pe. António Luís Gonçalves, também ele espiritano, passou as celebrações dominicais para a capela de Sto. António, pequeno templo, situado na berma da primitiva estrada para a Huíla, obra do Pe. Carlos Esterman, na Ferrovia..
Portanto, a paróquia da Imaculada Conceição do Lubango, foi criada em 1971, fruto do desmembramento da paróquia de Nossa Senhora das Dores - "Missão" - fundada, pelo Pe. Carlos Esterman, em 1935.
A Missão foi a terceira comunidade paroquial de Sá da Bandeira. Com efeito, a paróquia de S. José - cuja igreja ( a última a ser construída ), em 1955, ascendeu a Catedral, com D. Altino Ribeiro de Santana - foi erigida em 1886. A segunda paróquia foi a de S. Sebastião, da Humpata, em 1887.
Este mesmo sacerdote, o Pe. Gonçalves, já em 1963 começara a dar passos seguros conducentes à construção de uma igreja, tendo sido o primeiro subsídio de 10 000$00, oferta da Companhia de Diamantes de Angola. Em 1965 a Câmara Municipal de Sá da Bandeira fez também a sua oferta, um lote de 8 590 m2 de terreno, no qual começaram a ser abertos os caboucos, nessa mesma data.
O desenho do Projecto pertenceu a Aarão Pinto e dois engenheiros dirigiram as obras, concretamente, o Eng. Carlos Martins, seguido do Eng. Henrique Arede. Para mestre de obras, foi convidado António Ruivo.
A 23 de Agosto de 1970, D. Altino Ribeiro de Santana, bispo de Sá da Bandeira, benzeu a nova igreja e, a 25 de Maio do 1971, criou a Paróquia da Imaculada Conceição, com sede na mesma. O primeiro pároco foi o Pe. António Gonçalves, espiritano, coadjuvado pelo Pe. Pedro Clemente, diocesano.
O custo total da construção cifrou-se em 1 759 009$00.



1ª Fase da Paróquia
Na data da sua Fundação, como já dissemos, pelo Espiritano Pe. António Gonçalves,  em 1\971, esta parte da cidade era um centro fabril, com uma população não muito vasta, mas constituída por famílias, por regra geral, bem colocadas na vida. Prova disso é a própria igreja paroquial, construída em pouquíssimos anos e com capacidade para menos de quinhentas pessoas.
A construção do pavilhão, abandonada em 1978, é outro sinal da capacidade económica da zona: construído em poucos anos, destinava-se sobretudo a lazer: cinema, teatro, cultura física e desportos variados.
Por outro lado, a resposta que o Pe. Gonçalves recebeu da população, em matéria de obras e em muitos outros aspectos que documentos deixados demonstram, mostram à saciedade que estes habitantes estavam conscientes da sua fé e a punham em prática, na sua vida cristã diária e comunitária.
A Comuna da Arimba, com habitantes nomeadamente Nhanekas-Mwila, era uma outra realidade bem distinta, em perfeito contraste com a parte urbana. Rural, com famílias vivendo dos seus costumes e tradições ancestrais, ia sendo pouco a pouco evangelizada, mas ficou ainda em simples promessa duma futura comunidade cristã bem consistente.
A guerra colonial começou a deslocar para esta paróquia muito refugiados de guerra que começaram a dar nova paisagem à zona. Com a independência nacional, a 11 de Novembro de 1975, foi a guerra civil a produzir idênticos resultados demográficos. Estes acontecimentos foram obrigando a paróquia a amoldar-se pastoralmente e a abandonar paulatinamente o esquema pastoral do início.
Sacerdotes
Como é de justiça, se, por um lado, gosto de sublinhar o valioso papel dos leigos, também acho meu dever sublinhar o papel dos sacerdotes que se deram a esta vinha do Senhor. Como disse acima, o Espiritano, Pe. Domingos Alves Salgueiro, de 1960 a 1964, foi quem lançou a primeira semente, dum modo sistematicamente mais pastoral. Mas verdadeiramente foi o Pe. António Gonçalves o grande obreiro destes primeiros anos da paróquia. E como já referi atrás, houve também um sacerdote diocesano seu colaborador, o Pe. Pedro Clemente, em 1971. Em 1978, por pouco tempo, sobraçou os destinos da Imaculada Conceição outro Diocesano, ainda vivo, em Coimbra, o Pe. Jorge Camejo, num verdadeiro parêntese entre um Espiritano, Pe. Gonçalves e outro Espiritano, o Pe. Pedro Pubben.

2ª Fase da Paróquia
A segunda fase – começada em 1978 – foi cenário da continuidade dos efeitos mais acentuados da guerra civil. Todas as guerras produzem a morte e a fuga das populações. Os espaços livres, sobretudo próximos das grandes cidades onde o conflito não chegara tornaram-se aldeias improvisadas que se foram tornando definitivas. Foi o que aconteceu com o Lubango e com a nossa paróquia. A independência e o regresso dos portugueses ao seu país, como acabei de dizer, tinham favorecido mais ainda a aglomeração de muitíssimos refugiados de guerra nesta paróquia, sem as condições mínimas de vida, a nível pessoal e familiar.
Pouco a pouco, as famílias desses bairros recém-criados começaram, então – como aconteceu com os judeus, em Babilónia, o que, ali, deu origem à criação das sinagogas – a juntarem-se para rezar. Essa partilha da fé levou à construção de capelas mais espaçosas, a que deram o nome mais simples de “Capelinhas”.
Quando tomei conta da paróquia da Imaculada Conceição, em 19 de Outubro de 1997, acompanhado dos PP. Danilo e Américo, vim encontrar esta situação. À medida que fui conhecendo os Catequistas mais Responsáveis e conhecendo melhor a realidade, achei que poderíamos ter neste conjunto de Capelinhas a espinha dorsal da organização da Paróquia. Mercê da colaboração de muita gente de boa vontade, reunida no Conselho Pastoral, atribuímos o nome de Comunidade a cada Capelinha, mantendo o padroeiro a distingui-la e o pároco passou a nomear os três primeiros Responsáveis de cada uma delas. A ideia foi feliz e o número elevado de catequistas a colaborar nesta iniciativa permitiu ir clarificando e aperfeiçoando essa organização das Comunidades, cabendo a cada um delas, em coordenação com o centro da paróquia, a catequese de todas as idades, a pastoral familiar e sócio-caritativa, etc. Sobretudo o aspecto para-litúrgico, com a oração da manhã diária, nas primeiras horas da alvorada, foi o que mais contribuiu para que este espírito de Igreja vingasse e frutificasse.
Com o andar do tempo, viu-se a necessidade da criação de mais Comunidades o que proporcionou um atendimento pastoral à totalidade das populações.
Alguns anos mais tarde, lançámos o projecto da associação de várias Comunidades em Zonas, tendo por Coordenador o Delegado de Zona, um dos primeiros Responsáveis duma Comunidade. Cada Zona deveria reunir mensalmente, analisando a pastoral de cada Comunidade integrante, levando às mais carenciadas a ajuda necessária e enviando ao pároco Acta de cada reunião.
Uma Comissão Coordenadora da Cidade e, outra, da Comuna da Arimba - Zona Pastoral do Coração de Maria – ficaram encarregadas de coordenarem toda esta organização, congregando, para o efeito, todos os Delegados de Zona e os Coordenadores dos Ministros Extraordinários da Comunhão, assim como outros Coordenadores de diversos sectores de pastoral. Por outro lado, resolvemos que, de dois em dois anos, na Assembleia Paroquial anual de Pastoral, estes Responsáveis das Comunidades e os Ministros da Comunhão fossem reconduzidos ou substituídos para se evitar um mal que, tantas vezes acontece, concretamente a mentalidade de “donos” da sua Comunidade.
A experiência tem dado óptimos resultados, graças à boa vontade, ao espírito de fé e ao espírito de sacrifício de todos, nomeadamente dos Catequistas. Na cidade, neste momento, há 23 Comunidades, distribuídas por 7 Zonas e, na Zona Pastoral do Coração de Maria ( Comuna da Arimba ), 10 Comunidades distribuídas por 3 Zonas.

Sacerdotes e Religiosas
De novo, quero fazer justiça a todos os Sacerdotes e Religiosas que estiveram à frente dos destinos da Paróquia, nesta fase, alguns dos quais em tempos verdadeiramente difíceis, como foram os anos `80. De 1979 a 1992, o Pe. Pedro Pubben – certamente que ajudado pontualmente por alguns colegas cujo nomes não consegui identificar – conduziu a barca entre procelas e ventos contrários. Em 1992, o jovem sacerdote diocesano Pe. Simeão Kaíta, hoje pároco da Sé e Vigário do Lubango, foi o sucessor do Pe. Pedro. Em 1996, outro jovem sacerdote, também ele diocesano, o Pe. Jacinto Pio, foi colocado à frente da pastoral desta Comunidade.
Em 19 de Outubro de 1997, Domingo das Missões, nós, os Missionários Filhos do Imaculado Coração de Maria – também conhecidos por Missionários Claretianos – tomámos posse da Paróquia com uma equipa de três sacerdotes, a saber, Pe. Álvaro Teixeira, Pe. Jorge Danilo e Pe. Américo Paulo. Pouco a pouco, foi havendo saídas e novas entradas de outros Sacerdotes e Irmãos que passo a enumerar: Pe. Miguel Gomes, em 1999; Pe. Mário Jorge, em 2001; Pe. Abílio Ramos, em 2002; o Ir. Manuel Martins – já falecido – em 2003; o Pe. António Portugal, em 2004; o Pe. Damião Fernandes, em 2006; o Pe. Gabriel Isaías, em 2008; o Ir. Aquino, em 2009; o Pe. Inácio e o Diác. Silvestre, em 2011
E, falando do clero, é também justo falar das Religiosas que se devotaram à Pastoral desta Paróquia, até ao presente. As primeiras julgo terem sido as Irmãs Coraçonistas que, durante bastantes anos, até viveram no complexo da Igreja Paroquial. Outras Comunidades mais recentes, embora com um bom número de anos de serviço pastoral já prestados, são as Filhas de Jesus, as Irmãs Teresianas e as Irmãs Vitorianas. Recentemente, aceitaram também colaborar Irmãs de Comunidades não situadas geograficamente na paróquia, a saber, uma Irmã das Filhas de S. José, Ir. Edivalda, brasileira, e a Superiora das Irmãs Hospitaleiras do Coração de Jesus, Ir. Sílvia, portuguesa. O desempenho de todas as Religiosas de todos os Institutos tem sido imensamente benéfico para o bem espiritual e pastoral da Imaculada Conceição.

3ª Fase da Paróquia
A 3ª fase da nossa paróquia começou com a demolição das casas adjacentes à linha da via férrea, há cerca de três anos. Para a Chiavola foram muitos dos nossos paroquianos. Há um ano, mais famílias – muitas! - que viviam junto do rio Mucúfi e do rio Caculuvar foram evacuadas para Tchimúkua e outras paragens. Isto provocou que muitíssimas famílias desta Comunidade Paroquial, tivessem de abandonar a paróquia.
O afastamento compulsivo destes milhares de irmãos trouxe uma outra consequência negativa. Com efeito, o facto de, entre 2009 e 2010, a Côngrua ter diminuído uns 7.000 dólares – o que veio agravar a nossa situação económica, já de si muito precária – é sinal evidente de que esta terceira fase irá ser acompanhada de uma crise financeira a exigir da pastoral mais criatividade e coragem.
Há Zonas bastante extensas, como é o caso da Zona 4, da cidade, cujas casas estão praticamente todas marcadas para serem demolidas. Até a vetusta Capela de Sto. António – centro de peregrinações, durante décadas – continua em perigo de desaparecer.
A Praça do Tchioco já está desfeita e todo o casario envolvente certamente vai ser alvo de novas demolições. Há ainda a promessa do desaparecimento de todas as casas que se encontram a certa distância das linhas de alta tensão. É mais que provável que as razões para novas demolições se se vão sucedendo até que as Autoridades possam realizar projectos de urbanização, certamente já todos, ou quase todos, gizados pelo Governo.
Na Comuna da Arimba, as máquinas já fizeram milhentos aterros e as construções de imóveis estatais já começaram. Uma das nossas capelas – Nonthanda – já está condenada ao desaparecimento. Isto irá provocar uma nova face daquela zona cujos pormenores ignoramos.
Com o desaparecimento das casas dos moradores e das capelas que suportam a organização pastoral actual, esta Comunidade Paroquial terá de ir fazendo uma leitura atenta dos sinais dos tempos e procurando, com os Catequistas Responsáveis que ficarem e com outros cristãos que forem chegando, dar resposta às pessoas que forem mudando para cá a sua residência. Isto com serenidade, com inteligência e com um sentido o mais realista possível das novas situações. Nesse trabalho, iremos ter pela frente ainda a acção das seitas que se aninham por cá, porque, também elas, irão perder os seus adeptos que procurarão substituir.
Consequentemente, não é possível hoje, sem acesso aos projectos do Governo para esta área à nossa disposição, podermos começar a traçar estratégias e planos para respondermos às novas situações. Mas, para uma Igreja que sabe que o Espírito é que a ilumina e dá os critérios necessários a prepararmos o terreno e os corações para a evangelização e a existência cristã que dá conteúdo à nossa missão, tudo isto não será jamais um drama, mas antes um desafio singular que nos deve colocar numa atitude semelhante àquela que os Apóstolos viveram logo após o Pentecostes.

OS CLARETIANOS DO LUBANGO, NA ACTUALIDADE
Hoje, os Claretianos, quase 15 anos passados desde a sua chegada, continuamos com a responsabilidade da Paróquia da Imaculada Conceição, sendo Pároco desta o Pe. Teixeira. O Superior da Comunidade claretiana do Lubango, com funções ainda de Director do Seminário do Coração de Maria, da Arimba, é o Pe. Inácio. Há já vários anos está connosco, também na Arimba, o Ir. Aquino. Ordenados em Janeiro, trabalham também nesta cidade os PP. Koia e Silvestre, tendo este último colaborado como Diácono, na Paróquia, no ano pastoral transacto.


Conclusão

A)   Por tudo quanto foi dito, a 3ª fase – que imagino ser praticamente a fase definitiva – irá colocar os alicerces duma paróquia urbana moderna. Fazendo prognósticos que nos parecem fundamentados e com base na situação presente, a actual Paróquia da Imaculada Conceição, muito provavelmente, irá ser espartilhada pelo menos em três Paróquias, a saber, a actual e mais duas novas, concretamente, a Mucanca ( zona do aeroporto ) e a Arimba.
Não há dúvida de que tempos como estes são convidativos para um desafio à fé e à coragem. Os esquemas e planificações que têm sido tão preciosos até ao presente, se continuados, irão ficar obsoletos e ineficazes. Urgirá a elaboração de sucessivas leituras de campo bem fundamentadas e de contínuas novas planificações programáticas que correspondam à urbanização que se avizinha e à demografia que irá definir os novos traços do rosto da Igreja desta parte do Lubango.
Este trabalho, urgente e imprescindível, num próximo futuro não muito distante, requererá preparação, perspicácia, persistência, com reconversões constantes de linhas de acção e será inimigo de todo o pragmatismo pastoral.
Ao mesmo tempo que deixo aqui uma palavra de muito carinho para com todas as muitas centenas de cristãos mais responsáveis aos quais a Paróquia deve a sua vida actual, rica e enriquecedora, peço a Deus para que, tanto o clero como os fiéis que venham a ser os actores desta metamorfose pastoral sejam dignos da Palavra que irão, também eles, proclamar, com a fé e a acção.
O Espírito Divino jamais deixará de assistir, de iluminar e de fortificar as linhas de força da expansão da Barca de Pedro. Que seja Ele, sempre e só Ele, a gizar as linhas directrizes da reconversão pastoral que se avizinha.

O Lubango, em 1885 e no nosso território - os Barracões - teve como primeiro acto oficial uma Eucaristia, celebrada pelo Pe. José Maria Antunes, fundador da Missão da Huíla, em 1881, e, como primeira população, um grupo de algumas centenas de cristãos madeirenses. Portanto, o Lubango foi cristão desde o berço. Oxalá que este baptismo, com 128 anos de vida, seja sinal de que, no mesmo território, será a fé a gerar novas gerações de paroquianos.

É isso que, como pastor desta grei, há quase 16 anos, eu desejo e peço ao Senhor da Messe, a Igreja de Jesus Cristo.
B)    Na óptica acabada de desenhar, nesta conclusão, aparece a Comuna da Arimba, para nós, Zona Pastoral do Coração de Maria. Três hospitais em construção ( Maternidade, Psiquiatria e Pediatria ), vários Institutos Superiores Técnicos, várias Faculdades, um seminário Claretiano já em funcionamento há 4 anos e um seminário diocesano a construir, tal como num Colégio e várias casas de acolhimento à terceira idade, etc., assim como todas a as construções exigidas pelos serviços indicam que a Comuna da Arimba vai ser uma das mais distintas partes da cidade.
Precisamente por essa razão, a Equipa sacerdotal actual – Pe. Álvaro Teixeira – português – e Pe. Silvestre – Kwanhama ( Angolano ) conseguimos que uma empresa portuguesa ( Omatapalo - nos desse um projecto gratuito para uma linda e espaçosa igreja ), que a Administração Comunal da Arimba nos desse um terreno com 100x100 metros e que o Governador da Província integrasse no orçamento do Estado de 2014 o preço da construção da igreja nova e dum complexo anexo.
Deste modo, dentro de um ano poderá avançar a construção duma nova igreja paroquial com óptima capacidade de fiéis e como verdadeira resposta ao projecto urbanístico e demográfica em, curso.


terça-feira, 7 de maio de 2013

Notícias à Terça